terça-feira, outubro 17, 2017

Ocaso

Questiona-se muito, afinal. Correto seria pensar na inquisição toda, frequente, sobre todas as questões que propiciaram o ocaso. A vida simplista encontraria a mosca na pilha de livros, apontaria efusivamente e se irradiaria de uma estranha alegria, satisfação de enfim resumir o todo.

Seria melhor? Difícil dizer. Fato é que costumam dizer que as pessoas "não são mais como elas eram". Oras, não entendo o problema. O tédio se alimentaria do marasmo, da brisa ausente. Satisfeito não seria o caboclo que prostrado espera algum sinal de chuva. O cheiro, o vento, qualquer coisa. Afirmaria então que elas deixaram de ser o que eram. Parece-me mais justo.

Há um conjunto de características que nos tornam únicos. Clichê. Enfim, o que é admirado, detestado, venerado ou qualquer outra coisa que possa surgir de fora. A essência, afinal, é o que disso tudo é verdade. O que não precisa de aplauso para satisfazer, o que se faria sozinho ou no fim do mundo. Que não se mudaria, mesmo tempos depois. E não é por birra. É consciência.

É por se tornar pessoa estranha aos seus, desconhecida. Sem ponto qualquer com o que existia. Impor diversas regras ao mundo externo, participando forçosamente de coletivo ao qual não interseciona qualquer essência. Deseja uma revolução qualquer, um golpe de estado próprio em si mesma, almejando tolamente uma mudança sólida e duradoura. Declara à diplomacia internacional o novo Estado erigido.

Pois. É o que deixou de ser. No jogo das pessoas em enxergar apenas o que se convém, pode-se ter criado dupla mentira. Dificilmente se chegará a um consenso com relação a isso, sendo inimaginável a extensão dessa cegueira. Sempre há parcela de verdade e querer esconder isso soa impróprio. O descompasso é não notar o respeito perdido em tanta volúpia de alimentar o pequeno fio da acreditada essência. Protege-se de quem o nutria. Esconde-se e afasta quem outrora era similar e compartia de anseios parecidos e que, por razão estranha, são declarados antagônicos e opressivos, ainda que não o sejam de fato.

No fim das contas, conflitos não existem na essência. É só o cansar de olhos entre muitas comparações e o atrapalhar da voz interior.


quinta-feira, julho 06, 2017

Lembrete

Não posso me esquecer. Essa tristeza toda é vã. Ou talvez possua finalidade simples de reforçar a causa toda.

Não. Não pela semente que produziu sua florescência e exuberância. O solo, o ambiente e tudo o mais. A luz, a força e o que mais possa nutrir tudo o que existe além dela. E não por causa dela.

Causa. Caos. Não posso me esquecer.

Não, não posso me esquecer.

Não me esquecerei.


quarta-feira, janeiro 11, 2017

interface

Arranha com força. Tira a pele que separa isso, daquilo. Isso que nunca pode existir e aquilo que sempre invadiu e nunca percebeu superfície qualquer.

Agora tenta e arrebenta. Expandir-se e fundir-se doutra forma. Não mais somente aquilo, nem isso. Essa coisa.

E dá errado. Não dá. Não tem interface e não mistura.

Não coexiste.

O mundo serve para dispor disso e ponto. Naquilo não existirá isso.

Não cabe.


segunda-feira, junho 15, 2015

Requinte

A esperança é um toque de crueldade para o sofrente. É o sopro de vida almejado que insiste em dar o ar da graça, vestido de ilusão e cantarolando os futuros tempos bons. Curioso notar que o excesso dela é chamado de "desesperança".

Passa a fazer mais sentido agora.

Esperança pura é bobagem. O que mantém tudo promissor é a fé. Essa sim. Um misto de senso de propósito, intuição, um pacote divino de inconsciente coletivo e, por fim, uma pitadinha de esperança.

Propósito. A propósito não muito claro, é difícil convencer alguém sobre algo. Remar contra a maré é requinte de quem está bem situado. Quem trilha o próprio caminho às vezes não sabe de onde vem a correnteza ou se haverá algum vento. Por vezes o céu está nublado e nem por astronomia ou bússola se nota direção. Estar à deriva é diferente, é ser levado exausto de reagir. Não é isso. É convencimento de voz baixa, débil, contra multidão ruidosa e pouco atenta.

É queda de braço com a força fraca de ter algum tipo de senso. Mais que a intuição, algo que tenderia a proporcionar a maior tranquilidade. Confiança. Aquele misto de fé e outra coisa.

Tudo é requinte. Principalmente a esperança, requinte de crueldade.


terça-feira, fevereiro 03, 2015

Uma Memória

Qualquer, imprecisa. Das cortinas novas que me levam diretamente à casa dos avós. Por quê? O cheiro de fruta madura, os lírios do jardim e a cor daquela luz de verão.

São Simão. É a minha casa agora. Uma ligação direta cruzando vinte anos. Como se a sensação de casa tivesse de saltar uma ou mais gerações. Tal como a seca ou fenômenos complicados demais para serem justificados, sendo apenas ponderados, certificados, alarmados. Temidos.

Não haveria razão para tal.

Ao descansar sob essas condições, resgato um pouco de inocência. Que talvez eu nunca tive.

Enquanto que se corria atrás de chocolate, me lambuzava com uvas e mangas. O cheiro de manga dava para sentir do quintal. Era doce.

Doce bom, suficiente. Esquecia o tempo.

Como a cortina balança com a brisa leve da pequena fresta que restou na janela. Essa luz, o teto.

Tudo cumpre sua função.


segunda-feira, janeiro 26, 2015

Espuma

A cada fatia, parece sobrar menos. A ilusão é sacana. Fica sim mais duro, mais concentrado.
A preparação do ser fatiado é encolher-se e deixar o adiável para a superfície removida. Tende-se a achar que aquilo se foi, mas é bobagem. Essa camada é espuma, volumosa criação de uma efervescência íntima. Tirá-la só expõe o núcleo, obriga a uma nova camada e uma nova criação.

Pode-se ter medo de uma finitude. Bobagem!

O núcleo reage e se expande. Indefinidamente.



sexta-feira, janeiro 09, 2015

Esse...Essa...

Sombra.

Esconde-se quando não a percebo e me assombra em todos os outros casos. Ocupa mais tempo minuciar sua forma do que compreender sua razão de existir.

É como ficar ao sol e observá-la defasada. De meses, anos. Biênios, talvez? Sei que representa algo que tenta pertencer ao novo mundo.

Faz-se de bondosa, brincalhona. Só não cabe, não serve. As formas são outras e dificilmente se liga uma sombra desfigurada a um corpo mudado. É clichê pensar que só ocorre por causa da enorme claridade que surgiu nos tempos recentes? Pode ser.

Até se descobrir o que é realmente novo, ficamos com um clichê emprestado, como luva ou terno que não veste muito bem. O incômodo e desconforto causado é, na maior parte das vezes, de quem sabe da história ou é crítico, não de um observador externo qualquer.

O novo é um luxo que aflora, como a vida que da terra surge. Não se consome. Consome e nasce.


segunda-feira, novembro 17, 2014

Caminhar o caminho

Depressão é a contínua crença de que se pode e se conseguirá voltar para um estado mais sustentável.

E se está há tanto tempo nesse limbo emocional! Consegue-se, sabe-se lá como, respirar um pouco profundamente e sentir um pouco de vida se irradiando pelo corpo, novamente.

Mas, estar com esse urso nas costas é traiçoeiro. A felicidade de sentir vida consome a pouca energia, o broto, que ainda restava. E do jeito que se sentiu a alegria de curtir aquilo que se considera normal, volta-se para aquela vontade incondicional de simplesmente ser novamente, vendo distante o estado que se deseja.

Estar fora do equilíbrio demanda muito mais (que) energia. Um desejo muito forte e uma vontade sobre-humana de querer continuar.

Mas, se quer !!! Oh! Pois se é duro, disciplinado, determinado.

Não se pode ver outra saída ou fim que não o que está bem distante. Seja para continuar, seja para entender que não há saída qualquer.

É caminhar o caminho. E ter paciência, um pouco mais de calma.




segunda-feira, outubro 20, 2014

Urso

Ele pula nas suas costas. É fácil confundir essa sensação com aquela ao chegar ao fim de um longo lance de escadas. Você para e, em pouco tempo, respira normalmente.

Mas é como se tivesse resíduo. Você não volta a ter o mesmo fôlego. Fica tanto tempo assim que esquece o que é sentir-se leve.

E deixa de ter a mesma disposição.

Até o que o urso pesa cada vez mais. E não se sabe mais como é ficar sem ele.

E, se tropeça, não consegue mais levantar.

Cansa mesmo por saber que não pode falsear, vacilar ou cair. Tem de permanecer ereto, resiliente. E doem as pernas e as costas. Sem fôlego. E ainda tenta respirar.

Não há outra opção.


domingo, setembro 21, 2014

O que houver de impuro

Torcido. Como quem com muita prática sabe eliminar a última gota de um pano resistente. Que manuseia de um lado para outro, de ponta-à-cabeça, vira e gira, com a melhor pega, sem sequer prestar atenção.

Torce novamente. Lá está a última gota. E mais outra. Estaria sossegada quando se eliminar tudo. Sem destruir o pano.

Nesse ponto, chegamos a um problema. Tenta-se extrair o máximo, pela ideia de a coisa ser danosa. Nisso, com o tempo, vai se desfazendo a estrutura e o torna imprestável. Antes fosse a extração de algo bom. Não! O extraído vai pelo ralo, com a certeza de dever cumprido.

Pano de chão é assim, oras. Descartável, que fará sacrifícios em prol de uma limpeza que ele próprio nunca verá. Quando de tudo pronto, ausentar-se-á.

O mundo pronto torna-se "de ninguém". Um anseio pelo etéreo, intocado e, por que não, inútil. De acontecimentos porvir e, claro, da sujeira toda.

Se ao menos do torcer saísse algo bom!

Sim. Um filtro de café.



quinta-feira, julho 03, 2014

Balance

I lost my balance.

In just a frivolous moment I fell. The worst part was knowing that my strength and almost everything I've conquered during one year was spread in cold and dark tarmac.

Not only balance, also reasoning and reason. The difference between hope and faith is the absurdness your explanation seems to others. But, at this point, it would sound more as a will than the other two, because no one left to understand what really happened.

I have no one to blame, however the many awkward circumstances made me feel lucky and grateful. Everything I lost and part of me is still there, mending pieces of my old style and dignity while the other part is utterly seeking another way. Easy to see that no part left to reflect and see the bright side.

The problem lies on not having a fucking bright side. It is just this new path and the old thoughts fighting and all the smoke of powder stuck on heavy air. There is nothing to see.


quarta-feira, junho 18, 2014

Um muro qualquer

Meu trabalho é usar a pá de pedreiro. Devo olhar bem para aqueles muros todos e garantir que estão lisos, lisos. Funcionou por bom tempo. Tinha aprendido que se ficasse ondulado seria ruim para futuros trabalhos.

Destraído naquele dia, feliz pelo romance, o azul do céu e o que mais pudesse agradar pessoa qualquer, desenhei os traços apaixonados, montanhas e vales, rios que, juntos, formavam a aura de felicidade que alguém poderia saber compreender.

Pude curtir do início ao fim do dia, até que me ordenaram acabar com aquilo tudo. A história da felicidade, depois de lisa, deveria pintar de uma cor sólida, chocha. Um branco ou bege, qualquer coisa sem graça que agradasse a falta de pretensão subordinada.

Apesar de triste, cabeça erguida. Em menos de 24 horas estavam lá cores e muitos desenhos, juras de amor. De muito mais gente que eu.

De certa forma, valeu à pena.



segunda-feira, maio 19, 2014

Destino

Tem um mapa enorme daqueles que fazem questão de simplificar a grande bagunça (metro)viária dos grandes centros urbanos. O que é curvo vira reta e as montanhas, pontes e túneis são belamente ignorados. Igualmente espaçados estão as paradas do caminho, numa sucessão tranquila, asséptica que aniquila os muitos chacoalhões do percurso. Os trens brigam com essa simplória representação, gritam a cada curva, como se precisassem [se] lembrar aos outros que nada daquela idealização pode ser tida como real.

Ao destino se chega de muitas formas, como se cada troca fosse imediata. Difícil é descobrir o que evitar, pois os que há muito estão no caminho nada podem fazer ou ajudar.

Para os trens, é sempre "em frente".


quarta-feira, abril 23, 2014

Asas


De uma forma ou de outra deve-se pensar: Asas não brotam.

Daí o voo ser exercício tragicômico. Viciante. Do ponto de partida e quão longe se vai.

O que se pode fazer agora, depois de tudo?

Menos dúvidas ou perguntas.

Bobo! Estiveram aqui o tempo todo. São esquisitas, quando você se dá conta... Foi a maior espreguiçada, você não tem ideia! Mas, acostumar-se não demora.

Frio na barriga é pouco.


Medo? Risos.


Que diferença faz? Fato é: Não dá para disfarçá-las.


Tenho energia para viver ou esconder.


I've made my choice.



sábado, janeiro 25, 2014

460

Foi preciso de despir de um pouco de aço. Ou melhor, compartilhar a indumentária. Somente assim as profundezas da gigante pode ser vista. E vivida. Os tempos presentes fizeram com que essa fosse a única saída lógica, revelando os muitos caminhos que se escondiam e a escondia.

A pressa acabou. Perde força o discurso e o patrocínio de alguns interessados pela pressa e toda a noia que torna as ruas num grande campo de batalha, que divide os pontos de segurança dos quais você jamais deveria sair: academia, trabalho, casa. Nada após o anoitecer.

A rua causa medo. Ela é terra de ninguém. Escura, suja, abandonada. Perigo. Coisa de vagabundo, onde eles ficam e se amotinam e não se ocupam e corrompem os demais. Drogas. Rua é coisa da noite, deserta.

E tem a luz do dia. Que as latas se amotinam e amedrontam os demais. Coisa de vagabundo, que não anda com as próprias pernas ou se julga muito superior para compartilhar algo além da rua, ainda que haja cada vez menos espaço. Ironia! E se corrompem, numa agressividade justa pelo projetado status. "Sou algo".

Existe vida além dos carros. Ou melhor, além das ruas largas e claras que são o caminho da grande maioria. Os lugares que não são meras passagens para assegurar que a pressa impera, aqueles que as pessoas vivem. Bairros. Casas, verde, jardins. São nesses que a pressa acaba.

Ao se montar um pouco de aço, uma fração da própria massa, investiga-se, diariamente, como puderam nos deixar tão separados por tanto tempo: eu e a cidade. A tensão da distância criava essa ansiedade de percorrer tudo muito rapidamente. Mas, o silêncio e o vento no rosto e sem pressa! Vendo cada parte secreta que as grandes latas nos impedem de vivenciar. Haveria melhor remédio contra a pressa?

Cada vez mais próximo desse ponto sublime de fundir-se à própria urbe.

Ajudando a encontrá-la e vice-versa.


quinta-feira, outubro 31, 2013

600-ésimo

A realidade não pode ser dura. Nunca é. Não se pode atribuir qualidade a fatos. Isto só é razoável por interpretação, comparação, projeção. Comparações são sempre estapafúrdias e enviesadas, bem com as interpretações que dependem muito de um plano de fundo e também pode estar sujeito às sensações. O ato de projetar é mais puro, embora o plano estrague tudo.

O problema é avaliá-las. Criar a lógica para poder conviver com algo é o ato duro, em si. Não acaba sendo o mundo duro por fruto de qualquer circunstância, mas sim a necessidade de absorver uma nova lógica que exige mudanças tão profundas as quais se perde o chão. E tenta se voltar à verdade íntima, no âmago. E passado o tempo, o resquício disso é a frustração de ter caminhado pouco ou quase nada!

Se almeja com toda a força uma nova lógica, uma outra razão que permeie nossos sentidos a esses estímulos tão contraditórios. Perde-se a força de ser crítico e deixa passar, por ausência de barreira e não por equilíbrio. Rompe-se a membrana. Deixa instável e meaningless.

Sua lógica para de servir a si próprio. Quanto mais distante do bom senso praticado, mais distante de acreditar em suas próprias crenças.

Um cansaço sincero, sadista, persistente.


quarta-feira, outubro 23, 2013

Tapas

Do ato de tapar, não estapear. Ou serviria como o fato de estapear a si mesmo para reconhecer o enorme vazio que conseguiu-se maquiar por esse bom tempo?

O problema é sempre acreditar numa espécie de progresso, proporcionado por uma ordem excessivamente regrada que, infelizmente, acaba por surtir efeito por período prolongado. Mas não infinito! Naquelas pausas necessárias quando se está andando a esmo e se é obrigado e interromper coisa qualquer. Inclusive o que permitia acreditar que o adorno feito com chantilly não tinha a simples função de cobrir as imperfeições da massa do bolo.

Ai. Ai. E se fosse possível iniciar tradições a partir do próximo instante? Se fabricaria, como estadunidense, com visual retrô e diria que existe há [espanto] um século!!!

Mas o que é um século afinal? Os bons cientistas que desenvolveram o que conhecemos e realmente influenciaram alguma coisa viveram tempos atrás. Mudanças sólidas ocorreram por tradições reais e não artifícios bobos, de um registro exagerado facilitado pelas novas técnicas.

Mais cedo ou mais tarde quereremos que essa nova tradição supra o vazio desse novo mundo, ainda que soe remendado, como tapa-buraco, manco, imperfeito. Há esse arquétipo que já conheceu um pouco de atenção e não mais pode ser ignorado. E se quer de volta, para a completude, a todo custo.



terça-feira, outubro 08, 2013

Capuccino

Tentava me concentrar em algo. Jurava ser importante. Daquela enorme lista de afazeres, ao menos alguns itens deveriam ser riscados. Era uma necessidade de controle. Pelo tom da coisa, andava tudo muito atrasado. E sabe-se lá qual era o tempo que regia ou demandava tal cronograma.

Incontáveis vezes que ameaçava se aproximar da caneca, até que passou a ouvir algo que atrapalhava. Incomodava. Não era ventilador, computador, carregador ou qualquer outro 'dor' que pudesse ser responsabilizado. Era som de efervescência. E aumentava cada vez que se prestava atenção.

Bolhas! Eram bolhas! Suicidavam-se e mal se via quem foram. A espuma do leite. Chamava atenção para esquecer qualquer coisa terrena, do mau uso dessa boa vontade que nos enlameia, do reconhecimento de situação tão delicada.

Se tornava menos espessa, naturalmente. E o som permitia meditar e observar a metáfora se aproximar, do núcleo. Removia carinhosa e despretensiosamente a barreira frágil que nos protege. Esse acesso fácil e o encolhimento de frio, ou um saborear desigual das infinitas possibilidades. Consumir é acabar com o que representa, observar é tornar inútil.


segunda-feira, julho 29, 2013

O que se quer ser

Não me lembro. Talvez tenha sido alguma coisa diferente do que hoje. Realmente importa?

"Sim".

Seria, antigamente, uma lembrança anterior a este plano, indicando-me o caminho que eu deveria trilhar? Ou seria apenas uma interpretação errônea de alguma figura vistosa?

Vi a branca de neve em manto escuro, muito recentemente. Não sei qual seria a metáfora adequada para a maçã, mas ela estava bem imóvel. Não sei dizer se haveria príncipe para resgatá-la de alguma profundeza. Não me lembro de querer ser príncipe. Nem protagonista de conto de fadas.

A realidade é dura, mas ainda guarda um pouco de razão. Os sonhos são agora projeções, que faria eu sem a realidade?

Na realidade, não me lembro o que eu queria ser quando era criança. Hoje, se fosse criança, diria "mais velho". Pois naquela época, talvez fosse essa a interpretação simplista que eu teria feito de alguém com algum tipo de sabedoria. Uma caixa de ferramentas precisas para solução para o sofrimento cotidiano. Talvez houvesse paciência.

Melhor seria ter entendido que eu queria ser o que fizesse sentido em cada época. A cada sentido novo, uma nova pessoa. Durante o tempo que for necessário, até precisar de um outro código de conduta.

Mais ainda tem o papel de príncipe e outros que se precisa desempenhar, não? Para quando fica a minha vontade?

"Você é quem sabe".


terça-feira, maio 14, 2013

Um manifesto

Haveria então uma possível nova lógica? Uma teoria ou modelo que fosse capaz de englobar e sanar todo esse incômodo. Não para aniquilá-lo, mas para mostrar que isso sim é a normalidade.

Que não inserisse esses elementos ausentes e tratasse como novo. Pois, não poderia existir tal definição! Uma vez que já existe. Reconhecê-lo não o torna novo e também não deveria haver oposição a ele, como existe a tudo que é "novo".

Ainda assim talvez fosse não uma "nova", mas uma outra lógica. Um estalo que permitisse que as ideias caminhassem lado-a-lado, nunca sendo excludentes. Esse outro plano que permite tudo coexistir sem interferência destrutiva. Onde talvez nós sejamos mais nós mesmos do que jamais tenhamos sido e isso só inspiraria a buscar o outro a sua própria profundidade.

O grande problema existencial seria não tentar se enquadrar em coisa qualquer, mas sim descobrir o que realmente ressoa internamente. Seria preciso viver. Com necessidade e consequência imediata de não classificar tais existências, visto que o modelo criado é inclusivo, não restritivo. Seria cercar os pontos regulares, frequentemente encontrados, e estabelecer a importância de todos os outros inclassificáveis, tudo o que não se conhece. É ater-se ao inseguro!

E, nessa base diferente, seria difícil usar padrões atuais. Não daria para andar junto com a maré, nem ir contra, visto que essa referência de "todos" não existiria. Uma forma comparativa poderia ser somente o caminho seguido que, certamente, não poderia fornecer informações diretamente úteis para os próximos passos.

Um avesso que não possui, não possuiu, nem possuirá, 'dentro' ou 'fora'.